Ainda o discurso de Obama (Pedro do Coutto)
Foi, sem sombra de dúvida, um discurso belíssimo o que o presidente Barack Obama proferiu no momento em que assumia a presidência dos Estados Unidos. Momento histórico, eterno e inesquecível, sobretudo pela trajetória no tempo que projetou no texto e no contexto.
Afinal um senador de raça negra, de veloz carreira política, chegou à Casa Branca há 144 anos da guerra de secessão, que teve como motivo principal a escravidão, dividindo o norte e o sul do país, os estados confederados e a união federal.
Eleito em 1860, reeleito em 1864, o presidente era Abraam Lincoln, da mesma forma que Obama, senador por Illinois. Todos nós que assistimos à posse, pela TV, participamos da história. Somos testemunhas dela, dirão aqueles que virão depois de nós.
A memória universal, a memória das nações, é feita de momentos assim.
Este, entretanto, foi testemunhado por mais de um bilhão de pessoas, um quinto da população do planeta, talvez até mais um pouco. Durou várias horas. Nunca houve emoção igual numa posse de presidente da República. Isso porque a intensidade do entusiasmo foi proporcional à esperança. Em sua oração, Obama focalizou todos os pontos nevrálgicos da crise pela qual o mundo está passando, uma torrente enorme de problemas e desafios à busca de soluções rápidas.
A ansiedade humana, a partir do desemprego e da fome, não pode esperar. Por isso, quanto maior for a necessidade premente, maior a esperança, maior a emoção, maior o desejo de êxito para aquele de quem se espera quase tudo. Até um milagre.
O discurso de Washington continua ecoando. Mas ele é uma peça retórica um sonho, um projeto. Agora, a partir desta semana, Obama inicia a viagem na estrada da realidade. Se a teoria na prática é outra, passamos a esperar os enfoques concretos do presidente no palco aberto e iluminado pelo candidato. A economia está um desastre.
Crescimento insatisfatório diante da taxa de crescimento demográfico, quando não até retrocesso em muitos casos. Desemprego alto, renda do trabalho portanto em queda.
Falta de oportunidade, acentua-se a luta por um lugar ao sol, como na obra de Theodore Dreiser, um escritor de grande valor e importância social. Reflexos negativos por toda parte provocados pelo impasse do subprime. A ganância imediata devorou os limites da razão, comprovando que a idéia do lucro nem sempre é suficiente para assegurar o progresso, tampouco seu ritmo permanente. Que fará Barack Obama?
Injetar centenas de bilhões de dólares, como fez Bush, no sistema empresarial não resolve.
A crise não está no sistema de produção, este não foi afetado em sua estrutura ou essência. A crise está , isso sim, na retração do consumo. Causa principal, o temor pela perda do emprego. Não sem razão. As milhares de dispensas na maioria dos países esta reforçando a idéia.
Em nosso país, como o presidente Lula reconheceu, em dezembro evaporaram-se 600 mil postos de trabalho. Um episódio isolado? Longe disso. Uma reação em cadeia. O Oriente Médio, Faixa de Gaza, uma situação tenebrosa, um impasse que se estende por 60 anos, desde a criação do estado de Israel, que se desloca para um novo plano profundamente crítico.
Os governantes –afirmou Obama- serão julgados pelo que construírem, não pela capacidade que tiveram de destruir. Nenhuma frase melhor do que esta para sintetizar o panorama de hoje.
O julgamento pela construção, seja em que terreno for. Pois a construção, sobretudo, é a finalidade maior da política. A política é um instrumento concreto de construção. O único. Nada de coletivo pode ser feito sem ela. Não se trata de marketing, que é fácil. Trata-se de resolver o presente e edificar o futuro. O que é difícil. A viagem começa, sim, esta semana.
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