E.U.A News (Painel do Paim) - N. 487 da série de 599 Blogs do Coronel Paim - O Porta-Voz

Este blog se destina a registrar aspectos ecológicos do grande país do norte e sua influência sobre a economia internacional e brasileira e a vida do nosso povo, inclusive a preparação ostensiva e sua participação no desfecho do golpe de 1964 e, recentemente, na espionagem das ações do governo brasileiro. .

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

'Será o maior corte de gastos da história', diz Obama sobre plano (Postado por Erick Oliveira)

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta segunda-feira (19), em pronunciamento na Casa Branca, que a proposta para reforma das contas do governo que será enviada ao Congresso será “o maior corte de gastos da história”.
"No longo prazo, nossa prosperidade depende de pagar a dívida que acumulamos ao longo da última década. Nessa década, gastos do governo, cortes de impostos para milionários, duas guerras, nos deixaram com grandes dívidas. Se não fizermos nada, isso vai acabar nos ombros de nossos filhos", afirmou Obama.
"Washington precisa viver com o que tem. Precisamos cortar o que podemos, para pagar o que realmente interessa, investir no que promove empregos".
O plano prevê a redução do déficit dos EUA em US$ 4 trilhões ao longo dos próximos dez anos, valor que inclui o corte de gastos de US$ 1 trilhão aprovado no mês passado.
O presidente defendeu a reforma de todo o sistema tributário do país, com a eliminação de brechas para torná-lo "mais justo": "nosso sistema tributário não deve dar vantagens a quem tem mais lobby", afirmou.
"Estou propondo sérios cortes em gastos. Será o maior corte de gastos da história. Mas tem que ser balanceado. É por isso que esse plano elimina brechas para grandes empresas, que pequenas empresas e a classe média não têm", afirmou.
"Mas será preciso elevar a arrecadação para fazer a conta fechar. As classes médias não devem pagar mais impostos que milionários e bilionários. O secretário do (bilionário norte-americano) Warren Buffett não deve pagar uma taxa de impostos mais alta que o Warren Buffett", disse ele, defendendo que os mais ricos e as empresas mais ricas "paguem o sua justa parte" na reforma do orçamento.
"O plano requer que os americanos mais ricos voltem a pagar os mesmos impostos que pagavam nos anos 90, antes dos cortes de impostos do [ex-presidente George] Bush".
Obama apresenta seu plano para reduzir o déficit nas contas públicas do país, que deve ser levado ao supercomitê do Congresso encarregado de definir como o país vai alcançar a economia necessária para cumprir o plano aprovado em agosto, que permitiu elevar o teto da dívida pública e evitar um “calote”.
A proposta de orçamento enviada ao Congresso também pretende tornar viável o plano de US$ 447 bilhões para criação de empregos apresentado pelo presidente no início do mês, que prevê redução de impostos sobre a folha de pagamentos para empresas que contratarem e a criação de vagas recontratando professores, veteranos de guerra, reformando escolas e infraestrutura de transporte.
Redução do déficit em US$ 4 trilhões em dez anos
A proposta apresentada por Obama prevê a redução do déficit em mais US$ 3 trilhões ao longo da próxima década – além do US$ 1 trilhão contido no plano aprovado em agosto, e que permitiu a elevação do teto da dívida pública do país.
De acordo com o presidente, a proposta inclui quase US$ 580 bilhões em cortes e reformas em programas sociais, dos quais US$ 320 bilhões serão referentes a programas federais de saúde, como Medicare e Medicaid. A economia com a redução dos esforços de guerra no Afeganistão e no Iraque deve gerar outro US$ 1 trilhão.
Já a reforma no sistema tributário – com a eliminação de brechas, o fim dos benefícios fiscais concedidos entre 2001 e 2003, e a elevação de impostos para os mais ricos – deve elevar em mais US$ 1,5 trilhão a arrecadação do governo.
Imposto Buffett
O imposto para os milionários foi apelidado de "imposto Buffett" depois de ter sido defendido pelo bilionário investidor Warren Buffett, que afirmou que a medida não afetará os investimentos nem os empregos..
"Enquanto os pobres e a classe média combatem por nós no Afeganistão e enquanto muitos americanos lutam para chegar ao fim do mês, nós, os mega-ricos, continuamos nos beneficiando com isenções fiscais extraordinárias", afirmou ele.
Buffet explicou que os impostos que pagou ao Estado federal representaram 17,4% de seus ganhos no ano passado, enquanto o das 20 pessoas que trabalham em seu escritório oscilou entre 33 e 41%.
A taxa de impostos dos ricos era muito mais elevada nos anos 1980 e 1990 e, no entanto, foram criados quase 40 milhões de empregos entre 1980 e 2000, recordou Buffett. "Vocês sabem o que aconteceu depois: impostos mais baixos e muito menos empregos criados". "As pessoas investem para ganhar dinheiro e uma potencial taxação jamais as fez fugir" completou.
Supercomitê de orçamento
Em agosto, o Congresso dos EUA aprovou um acordo para elevar o limite da dívida do governo federal do país e evitar um default (calote). A elevação do teto da dívida permitiu ao país pegar novos empréstimos e cumprir com pagamentos obrigatórios. Em maio, a dívida pública do país chegou a US$ 14,3 trilhões (cerca de R$ 22,2 trilhões), que é o valor máximo estabelecido por lei. Nos EUA, a responsabilidade de fixar o teto da dívida federal é do Congresso.
Parte do plano aprovado prevê a formação de um comitê formado por republicanos e democratas no Congresso para definir, até 23 de novembro, uma “segunda rodada” de cortes, entre US$ 1,2 trilhão e US$ 1,5 trilhão, que devem ser votados até 23 de dezembro.
O tamanho do corte aprovado será equivalente à elevação no teto da dívida que será então permitida. Se o corte aprovado for menor que US$ 1,2 trilhão, ou se o Congresso não chegar a um acordo, o teto da dívida será elevado em US$ 1,2 trilhão.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

As consequências para o mundo do declínio dos Estados Unidos (Immanuel Wallerstein

 
Internacional| 13/09/2011 | Copyleft
 

As consequências para o mundo do declínio dos Estados Unidos

Há uma década, quando eu e alguns outros falamos do declínio dos EUA no sistema-mundo, recebemos, no melhor caso, sorrisos condescendentes pela nossa ingenuidade. Não eram os Estados Unidos a única superpotência, com envolvimento em cada canto remoto do planeta, e impondo as suas posições na maior parte das vezes? Esta visão era partilhada por todo o espectro político. O artigo é de Immanuel Wallerstein.

Hoje, a opinião de que os Estados Unidos estão em declínio, em sério declínio, é uma banalidade. Todos o dizem, excepto uns poucos políticos norte-americanos que temem ser recriminados pelas más notícias da decadência se forem discuti-la. O fato é que hoje quase todos acreditam na realidade do declínio.

Mas o que se discute muito menos é quais têm sido e serão as consequências mundiais deste declínio. Este tem, evidentemente, raízes econômicas. Mas a perda de um quase-monopólio do poder geopolítico, que os Estados Unidos já exerceram, tem as mais importantes consequências políticas em todo o lado.

Comecemos com uma pequena história contada na secção de negócios do The New York Times de 7 de agosto. Um gerente financeiro de Atlanta “carregou no botão pânico” devido a dois clientes que lhe ordenaram que vendesse todas as suas ações e investisse o dinheiro num isolado fundo mútuo. O gerente disse que, em 22 anos como agente de negócios, nunca tinha recebido uma ordem como esta. “Isto não tinha precedentes”. O jornal observou que a ordem era o equivalente à “opção nuclear”. Ia contra o santificado conselho tradicional de uma “abordagem ponderada” às reviravoltas do mercado.

A Standard & Poor's reduziu o rating dos Estados Unidos de AAA para AA+, o que também é “sem precedentes”. Mas tratou-se de uma ação bastante suave. A agência equivalente na China, a Dagong, já tinha reduzido a notação financeira, em novembro passado, para A+, e agora reduziu-a para A-. O economista peruano Oscar Ugarteche declarou que os Estados Unidos são uma “República das bananas”. Disse que os EUA “optaram pela política da avestruz, esperando com isso não afugentar as esperanças [de melhoria].” Reunidos em Lima, os ministros das Finanças da América do Sul tiveram um debate urgente sobre como se protegerem melhor dos efeitos do declínio econômico dos EUA.

O problema de todos é que é muito difícil isolar-se destes efeitos. Apesar da severidade do seu declínio econômico e político, os Estados Unidos permanecem um gigante na cena mundial, e qualquer coisa que lá aconteça ainda provoca grandes ondas em todo o lado.

É certo que o maior impacto do declínio dos EUA é e continuará a ser sofrido nos próprios Estados Unidos. Políticos e jornalistas estão a falar abertamente da “desfuncionalidade” da situação política dos EUA. Mas o que mais poderia ser, além de desfuncional? O fato mais elementar é que os cidadãos dos EUA estão atordoados pela simples existência do declínio.

Não se trata apenas de os cidadãos dos EUA estarem sofrendo materialmente com o declínio, e terem um temor profundo de virem a sofrer ainda mais com o tempo. A questão é que acreditavam profundamente que os Estados Unidos são a “nação escolhida”, designada por Deus ou pela história para ser a nação modelo do mundo. Ainda estão a receber a garantia do presidente Obama de que os Estados Unidos são um país AAA.

O problema para Obama e para todos os políticos é que muito pouca gente ainda acredita nisso. O choque para o orgulho nacional e a auto-imagem é formidável, e também é muito abrupto. O país está lidando muito mal com esse choque. A população está à procura de bodes expiatórios e a fustigar feroz e não muito inteligentemente os presumíveis culpados. A última esperança parece ser a de alguém ser culpado, e o remédio mudar as pessoas que têm autoridade.

Em geral, as autoridades federais são vistas como as únicas responsáveis –o presidente, o Congresso, os dois maiores partidos. A tendência é muito forte no sentido de haver mais armas a nível individual e uma redução do envolvimento militar fora dos Estados Unidos. Culpar de tudo os políticos de Washington leva à volatilidade política e a lutas intestinas locais cada vez mais violentas. Eu diria que os Estados Unidos são hoje uma das menos estáveis entidades políticas no sistema-mundo.

Isso faz dos Estados Unidos não só uma nação cujas lutas políticas são desfuncionais, mas também um país incapaz de exercer muito poder real no cenário mundial. Assim, há uma grande queda na credibilidade dos Estados Unidos e do seu presidente por parte de tradicionais aliados externos, e por parte da base política doméstica do presidente. Os jornais estão cheios de análises dos erros políticos de Barack Obama. Quem pode contradizê-los? Eu poderia fazer facilmente uma lista de dezenas de decisões de Obama que, na minha opinião, estavam errados, foram covardes, e às vezes francamente imorais. Mas pergunto-me: se ele tivesse decidido de acordo com o que pensa a sua base, o resultado teria sido muito diferente?

O declínio dos Estados Unidos não é o resultado de más decisões do seu presidente, mas de realidades estruturais no sistema-mundo. Obama pode ser ainda o indivíduo mais poderoso do planeta, mas nenhum presidente dos Estados Unidos é ou poderia ser hoje tão poderoso quanto os presidentes do passado.

Entrámos numa era de agudas, constantes e rápidas flutuações – nas taxas de câmbio da moeda, nos índices de emprego, nas alianças geopolíticas, nas definições ideológicas da situação. A extensão e a rapidez destas flutuações leva à impossibilidade de previsões a curto prazo. E sem alguma estabilidade razoável das previsões de curto prazo (três anos ou mais), a economia-mundo paralisa-se. Todos terão de ser mais protecionistas e virados para dentro. E os padrões de vida vão cair. Não é uma imagem bonita. E, embora haja muitos, muitos aspectos positivos para muitos países devido ao declínio dos EUA, não é certo que, com o barco do mundo a balançar ferozmente, outros países sejam de facto capazes de lucrar aquilo que esperam desta nova situação.

É tempo de fazer análises de longo prazo muito mais sóbrias, de fazer julgamentos morais muito mais claros sobre o que a análise revela, e de realizar uma ação política muito mais eficaz no esforço de, nos próximos 20-30 anos, criar um sistema-mundo melhor do que aquele em que estamos todos enredados hoje.

(*) Tradução, revista pelo autor, de Luis Leiria para o Esquerda,net