McCain ataca, Obama cresce (Argemiro Ferreira - Tribuna da Imprensa)
Apenas no início do terceiro debate, quarta-feira, o republicano John McCain pareceu mais confiante. Naufragou ao retomar os ataques pessoais (caso Bill Ayers, gastos, impostos, denúncias de fraude, etc.). Reincidiu no que antes o fizera despencar nas pesquisas. Na defensiva, Barack Obama esteve tranqüilo até demais - e eficaz. Daí os dados da pesquisa-relâmpago da CNN: 58% viram vitória de Obama, só 31% apontaram McCain.
A diferença de 27 pontos percentuais é expressiva. Um "focus group" em Ohio apontou resultado parecido. E a pesquisa-relâmpago constatou ainda: 1. Os que têm opinião favorável sobre Obama passaram de 63% para 66%; 2. Sobre McCain, houve queda, de 53% para 49%. Obama tinha apenas de não cometer erro grave - e ganhou. McCain, por sua vez, tinha de ganhar, de preferência por nocaute - e perdeu.
É preciso acrescentar ainda que a economia, predominante no debate, contribuiu muito para a vantagem de Obama. Foi o que disseram 59% dos ouvidos pela CNN, que o acharam melhor nas questões econômicas. Só 24% acharam McCain melhor. Para 66%, Obama foi mais claro, articulado e específico. E economia, como todo mundo sabe, não é o forte de McCain - ele mesmo chegou a reconhecê-lo no passado recente.
A vantagem confortável
Não pode ser subestimado o item assistência à saúde, hoje preocupação grave e crescente nos EUA. Em relação a isso, 62% disseram que Obama foi melhor, só 31% apontaram o republicano. E vocês se lembram daquela imagem que a campanha tentava vender de um McCain como grande líder com larga experiência? Pois é, por 23 pontos percentuais de vantagem, Obama foi visto no debate como líder mais forte do que ele.
Então, para os que viram o debate, McCain não ganhou em nada? Bem, segundo a pesquisa da CNN ganhou sim, pelo menos em duas categorias: 1. Para 80% das pessoas, foi o que passou mais tempo dedicado a fazer ataques ao adversário (apenas 7% responderam Obama); 2. Para a maioria, 54%, McCain foi também o que mais se comportou como um político típico (só 35% disseram Obama).
A pesquisa da CNN com a Opinion Research revelou ainda mais números sobre os eleitores independentes, que não se consideram democratas e nem republicanos (eles abominaram os ataques de McCain), as mulheres e os homens (elas são esmagadoras na preferência por Obama, 62% contra 28%; eles nem tanto, mas também grande maioria, 54% contra 35%).
Não há mais debates e faltam apenas 18 dias. O que resta a McCain? É preciso levar em conta que a eleição não é decidida em votos populares. Obama ainda tem a maioria dos votos eleitorais, mas em estados críticos a mudança de 1% ou 2% do eleitorado pode inverter a tendência. E há o efeito Bradley, esperança da rede Fox News, analisado antes nesta coluna. Se eleitores mentem à pesquisa, para ocultar o racismo, o resultado se inverte na hora de votar (caso do prefeito Tom Bradley, de Los Angeles, em 1982).
Ei, Leitão, eu vi outro debate
Às vezes fico preocupado, suspeitando ter visto um debate diferente daqueles que outros brasileiros viram - como agora a colunista Miriam Leitão, de "O Globo". No "Bom dia, Brasil" da Rede Globo, na manhã seguinte, ela disse a certa altura, depois de falar da promessa de McCain de cortar os subsídios do etanol americano: "McCain não fez promessas impossíveis, mas Obama fez. Ele prometeu que vai equilibrar o orçamento em quatro anos".
Ei, Leitão, o debate que eu vi foi diferente. No meu, ao contrário, McCain fez a promessa absurda. Talvez a colunista de "O Globo" pudesse nos informar em que país foi o debate dela. O que eu vi, pela TV, foi em Hempstead, Nova York, EUA. Nele, Obama, realista, negou-se a fazer a promessa - e ao ser perguntado se era possível reduzir em quatro anos a dependência do petróleo do Oriente Médio, foi realista.
Disse que seriam necessários uns 10 anos para reduzi-la.
Já McCain, que para Leitão "não faz promessas impossíveis", jurou, sim, que vai equilibrar o orçamento em quatro anos. Por coincidência, o debate que vi foi o mesmo que a CNN transmitiu e o "New York Times" cobriu. Não conferi outros jornais para saber se algum teve a curiosidade de ver o debate da Leitão - o que, aliás, significaria atribuir a Obama e McCain o dom da ubiqüidade.
"Não sou o presidente Bush"
No debate que vi, o "Times" cobriu e a CNN mostrou, Obama foi muito preciso na questão orçamentária, enquanto McCain insistia em falar no gasto para compra de projetor para um planetário em Chicago. Nos três debates McCain elegeu ridiculamente esse planetário e demais "earmarks" (verbas específicas que parlamentares acrescentam) como núcleo central e receita mágica para o corte que acabaria com o déficit federal.
O problema, disse Obama, é que "earmarks" só representam a migalha de 0,5% do orçamento federal. "Quando Bush chegou ao poder, recebeu um orçamento com superávit e a dívida nacional era pouco mais de US$ 1 trilhão", disse, lembrando que McCain aprovava os orçamentos. "Nos últimos oito anos, ela dobrou. E agora encaramos um déficit de meio trilhão de dólares. Repetir as mesmas políticas desses oito anos não vai diminuir o déficit."
O moderador Bob Schiffer repetiu a McCain a pergunta sobre o equilíbrio orçamentário. Com um incrédulo "Em quatro anos?". O republicano foi enfático: "Claro. Farei isso sim." Pouco depois, disse ainda algo que até então nunca tinha ousado: "Senador Obama, eu não sou o presidente Bush. Se você queria concorrer com ele, devia tê-lo feito há quatro anos. Darei novo rumo à economia". Foi um bom "soundbite", mas chegou muito atrasado.
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