Obama firme na reta final americana (Pedro do Couto - Tribuna da Imprensa)
O candidato democrata Barack Obama - de acordo com a média das pesquisas publicadas ontem pela "Folha de S. Paulo" - vem firme na reta de chegada e assim encontra-se a um passo da Casa Branca nas urnas de terça-feira, 4 de novembro. A síntese dos levantamentos realizados por vários institutos, entre eles o Gallup, o mais especializado, aponta uma frente de 7,4 pontos: 50,5 por cento contra 43,1, do republicano John McCain. Entretanto, a vantagem configurada não se restringe à percentagem geral, já que as eleições norte-americanas são com base no peso dos colégios eleitorais.
Aí é que está: neste plano, a vantagem de Obama é maior ainda. São necessários 270 votos colegiais para assegurar a vitória de um candidato. Ontem, de acordo com a FSP, Obama mantinha sólida liderança nos estados que reúnem 255 pontos. Pequena liderança nas unidades da federação que representam em seu conjunto 51 pontos. Os estados indefinidos somam 75 pontos. McCain só vem na frente, de forma consolidada, em Nevada, Montana, Dakota do Norte, Missouri, Indiana, Carolina do Norte e Flórida, neste último caso contrariando tendências registradas anteriormente que assinalavam um panorama equilibrado.
Estes estados pesam 127 pontos. McCain lidera por pequena margem em estados que agrupam 30 pontos. Assim, o republicano está na frente em áreas que somam apenas 157 pontos. Barack Obama lidera numa faixa de 306 pontos, bem acima do limite da vitória que se encontra, como disse há pouco, na escala 270. Mas existem ainda 75 pontos que podem ser divididos entre os adversários.
Tenho praticamente certeza de que o Partido Democrata retorna ao poder com Obama oito anos depois da era George Walker Bush, que culmina, vale acentuar, com a maior crise financeira da história. Nem durante a segunda guerra, de 39 a 45, houve algo igual. Tampouco quando explodiu o crack de 1929, terrível, mas limitado aos EUA. Agora, os efeitos do sub-prime espalharam-se pelos continentes, atingiram todos os países, espalharam-se portanto pelo mundo.
Todos temos assistido debates em torno da sucessão americana e seus participantes, com raríssimas exceções, têm-se perdido em comentários fora da realidade eleitoral do país, fora do quadro básico. Este, inclusive, foi nitidamente focalizado pelos jornalistas Elisabeth Bumiller e Jeff Zeleny, do "New York Times", matéria traduzida e publicada pelo "O Estado de S. Paulo", edição de 23 de outubro. A matéria inclui um gráfico com o nome e o peso de todos os estados no colégio eleitoral. Importante olhar-se este panorama, que é aquele que conduz à melhor realidade analítica.
Fala-se muito, porém sem base concreta, o que constitui um erro. São nove os estados fundamentais para o desfecho da disputa: Califórnia, o mais populoso, pesando 55 pontos; Texas, 34; Nova York, 31; Flórida, 27; Illinois, 21; Pensilvânia, também 21 pontos; Ohio, 20; Michigan, 17, e New Jersey, colado a Nova York, 15 pontos colegiais. Ninguém pode vencer a eleição se não vencer na maioria dos grandes estados. E nestes grandes estados, McCain só vem firme no Texas.
Há dúvidas na Flórida e em Ohio. Nos demais seis, Obama vem muito distanciado na frente. Ohio é um termômetro importante. Decidiu em 2004 a favor de Bush contra John Kerry. Mas o quadro político era muito diverso do atual. A guerra do Iraque ainda não havia intoxicado a sociedade, a crise financeira não existia. O candidato de oposição não tinha carisma pessoal, como o de hoje.
E não só o carisma. Os recursos financeiros também, que são sempre o reflexo maior ou menor das possibilidades de vitória, é claro. Os diamantes são eternos, como escreveu Ian Fleming, criador de James Bond. Para hoje, quarta-feira, por exemplo, o Partido Democrata comprou 30 minutos da programação das três principais redes de TV, CBS, NBC e Fox, e também meia hora na Univisión, que transmite em língua espanhola. São, ao todo, 120 minutos em horário nobre. Isso vai custar mais de 12 milhões de dólares, já que o preço do minuto oscila em torno de 100 a 120 mil dólares.
Nos Estados Unidos, não existe horário eleitoral gratuito, tampouco restrição à compra de espaço. Por isso, o que o fenômeno assinala é a capacidade dos democratas em levantar recursos nos lances finais da campanha. É eternamente assim: quando o candidato está forte, os doadores fazem fila com entusiasmo para oferecer recursos. Quando o candidato está fraco, não atendem telefone. Isso ocorre só na política? Não. Acontece permanentemente na vida de cada um e de todos nós. É assim mesmo. Tem sido assim através dos tempos. E será sempre assim. O que fazer? Nada.
Um outro assunto, este totalmente de política financeira. O repórter Kennedy Alencar, também da "Folha de S. Paulo" de ontem, revela que o presidente Lula dirigiu um apelo aos bancos para que não façam restrição de crédito. Não foi atendido. A rede bancária preferiu aplicar em títulos do Tesouro, que lastreiam a dívida interna e que rendem, sem risco, 13,75 por cento ao ano. Descontada a inflação do IBGE, são juros reais de 7 por cento.
Várias vezes mais elevados, por exemplo, do que os juros americanos, que estão na escala de 2 por cento, empatando com o índice inflacionário dos EUA. A cautela brasileira é natural, compreensível. Num momento de falta de liquidez, é preciso recuar o time, fechar os espaços na defesa e partir para o que é certo. Até porque o incerto não é a praia dos banqueiros. Pelo contrário.